sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ex-Manowar sobre morte de baterista: "poderia tê-lo vigiado mais".

Bastante emocionado, o guitarrista Ross the Boss, co-fundador do Manowar, falou pela primeira vez a um veículo de imprensa sobre a morte de seu ex-colega de banda, o baterista Scott Columbus, morto em abril. Ao Terra, o músico, que toca no Brasil pela primeira vez nesta quinta (8), sexta (9) e sábado (10) - respectivamente, em Campinas, São Luís e São Paulo -, afirmou que os últimos anos de vida dele foram bastante problemáticos devido ao abuso de "substâncias e da bebida" e lamentou não ter tido mais condições de ajudá-lo.


"Infelizmente, eu vivo na cidade de Nova York e Scott vivia do outro lado do Estado. Uma distância de mais ou menos 700, 800 km. Se eu o tivesse na minha vizinhança, poderia tomar mais conta dele ou vigiá-lo um pouco mais", disse o músico de 57 anos, explicando ter tentado de todas as formas ao seu alcance resgatar o bem-estar do amigo.
"Eu fui atrás dele, fui o cara que quis levá-lo de volta à estrada, colocando-o para tocar de novo em um verdadeiro set de bateria. Quem sabe, essa volta ao mercado musical pudesse fazer estalar algo em sua cabeça, fazê-lo se animar um pouco", comentou. "Infelizmente, quando ele voltava para casa (dos shows), aqueles "demônios" continuavam o chamando, sabe?".
A entrevista não ficou limitada às lembranças e dificuldades de Scott. De fato, em uma conversa bastante reveladora, Ross comentou assuntos delicados em relação à sua ex-banda e surpreendeu ao dizer que era contra a postura "arrogante" - os integrantes do Manowar se autodenominaram os "reis do metal" - de seus ex-colegas, mais especificamente, de Joey DeMaio, líder do quarteto. "Eles não ouviam minhas sugestões. O Joey fazia o que queria e eu tentava fazer minhas coisas. Por mais que eu falasse, ele fazia tudo do jeito dele", afirmou, criticando os teatrais discursos da banda contra outros estilos e o tempo perdido em shows com demonstrações técnicas de seus instrumentistas.
"Odeio solos, odeio discursos e não acho que os fãs comprem ingressos para isso. Tenho certeza de que, se você fizer essa pergunta para qualquer fã, ele dirá, 'sem solos e sem discursos'. Eu prefiro dar a eles o que realmente querem".
A uma semana das apresentações que fará no País com sua banda solo, Ross contou ainda detalhes de seus shows, falou sobre a crise no mercado fonográfico e disse qual é o seu segredo para continuar lutando por sua música.

Confira a íntegra da entrevista a seguir.

Terra - Por que você demorou tanto para começar sua própria banda, seu primeiro trabalho, por assim dizer, solo?

Ross the Boss - Boa pergunta. Foram vários os motivos: não era a hora certa, eu não sentia ter as pessoas ideais para realizar esse projeto ou, mesmo, eu conhecia as pessoas certas, mas não calhava de conseguirmos tempo para nos juntar simultaneamente. Mas, quando eu conheci os garotos que fazem parte da minha banda atual, soube que era o momento. Mesmo assim, ainda demorou para começarmos de fato a tocar. Estávamos ocupados com outros projetos. Eu, no caso, com o papel de pai, gravações de discos de outros artistas, tanto em estúdio quanto em produção, além de ter tocado com o The Dictators (banda de punk rock que fundou na década de 1970). Eu senti que, quando fosse acontecer, seria por uma razão e, quando conheci esses caras, sabia que acabaríamos tocando juntos.

Terra - O que seus fãs podem esperar de seus shows aqui no Brasil?

Ross - Como costumamos dizer no mercado, nós iremos "descer o martelo" (risos). Tocaremos uma boa seleção de músicas de meus dois álbuns, New Metal Leader e Hellstorm, e, claro, minhas pérolas do Manowar.

Terra - Apesar de o Manowar ter vindo ao País três vezes, em todas as oportunidades você já não fazia parte do line-up da banda. O Brasil é bastante elogiado por músicos de heavy metal, assim como por grupos de outros estilos em geral. Qual é a sua expectativa de vir para cá?

Ross - Bem, eu sinto muita paixão. Eu sei que as pessoas são muito apaixonadas pelo que fazem, seja dentro do samba, dos festivais, do Carnaval, ou em qualquer outra coisa que vocês tenham por aí. Tenho consciência de que, quando o brasileiro se envolve com algo, faz isso de forma muito passional.

Terra - Após mais de 30 anos no meio, como você vê o mercado de heavy metal atualmente?

Ross - Bem, eu acho que o mercado de heavy metal está indo bem. Quer dizer, todas as bandas estão tocando, sabe? O Black Sabbath, o Judas Priest, o Iron Maiden...o rock´n´roll está ok também: muitas novas bandas surgindo, muita energia nova. Ao mesmo tempo, o mercado fonográfico, como um todo, está terrível. Nos EUA, pelo menos, o negócio de gravar e vender discos não funciona mais, afinal as pessoas estão fazendo downloads de graça e o dinheiro não está mais chegando aos artistas.

Terra - Nessa realidade, você ainda consegue viver apenas de sua música?

Ross - Bem, eu vivo muito de música, mas, para completar o orçamento, tenho uma grande loja de esportes aqui em Nova York.

Terra - Na época em que estava no Manowar, ainda nos anos 1980, no ápice do heavy metal, essa realidade era muito diferente?

Ross - Sem dúvida nenhuma, era. Naquela época, o rock´n´roll era rei e, além disso, o mercado ainda se sustentava pela venda de discos, com as gravadoras ganhando muito dinheiro. Os anos 1960, 1970 e 1980 foram ótimos para a música. As coisas simplesmente mudaram, só isso.

Terra - Você acha que o Manowar poderia ter aproveitado melhor esse ápice do rock, tornando-se, assim, uma banda maior?

Ross - Sim. Para mim, isso foi uma consequência de a banda não ter tocado suficientemente nos EUA. Sabe, nós nos recusávamos a fazer shows nas casas noturnas e clubes para os quais éramos chamados quando não podíamos utilizar todo o nosso equipamento, com todos aqueles PAs duplos que faziam parte de nosso set. Para mim, isso foi prejudicial, porque, se tocássemos mais, teríamos um número maior de pessoas nos seguindo.

Terra- Voltando aos primórdios de sua carreira. Como você migrou do The Dictators, uma banda essencialmente punk, para o Manowar? Afinal, são estilos que chegaram a ser vistos como inimigos entre seus adeptos...

Ross - Bem, em primeiro lugar, o Dictators era uma banda mais punk-metal, sabe? No nosso segundo disco (Manifest Destiny, de 1977), tínhamos no baixo Mark Mendoza, que mais tarde foi para o Twisted Sister. Quando se fala em punk, você pensa no Sex Pistols, no The Clash e em outras bandas semelhantes, e nós não éramos como eles. Por minha causa, o Dictators era mais envolvido com a música, com guitarras protagonizando todas as canções, diferente do que ocorre no punk. Então, eu o consideraria mais rock´n´roll ou street rock. Claro, nós fomos um dos quatro ou cinco grandes pais do movimento (punk), mas eu não me via como parte dele. Ter as raízes no heavy rock e tocar mais focado nesse estilo tornou fácil para mim o salto para iniciar o Manowar.

Terra - E como o Manowar se tornou o grande defensor do heavy metal?

Ross - (risos) Bem, nós sentimos que estávamos fazendo algo extremamente original e achavamos que valia a pena defender esse trabalho. O Joey (DeMaio, baixista e líder do quarteto) provavelmente daria essa resposta dizendo coisas como "morte ao falso metal" ou "bananas e posers, saiam do recinto" (risos). Sabe, eu sempre achei isso engraçado, mas ele definitivamente é sincero quando fala esse tipo de coisa.

Terra - Essa falta de humildade, talvez até certa arrogância, por parte de seus integrantes - principalmente Joey - também não teria prejudicado a popularidade da banda?

Ross - Sim, foi absolutamente negativo.

Terra - De fato, após doze anos sem tocar no Brasil, o Manowar veio ao País em 2010 e saiu de palco vaiado por não ter trazido em seu repertório nenhum grande clássico - foram executadas apenas canções de 2002 para cá. Como você vê essa postura?

Ross - Eu ouvi essa história. Sabe, as pessoas pagam para ir a um show esperando ouvir ao menos alguns clássicos e, quando não conseguem o que querem, elas têm o direito de vaiar. Pelo menos nas minhas apresentações, eu garanto que os fãs vão ter a oportunidade de ver os clássicos do Manowar.

Terra - Como estávamos falando, Joey tem um discurso preparado para todos os fatos que englobam o Manowar, algo também praticado por Eric (Adams, vocalista do quarteto). Sabendo disso, gostaria de saber de você qual foi o motivo para a sua saída da banda.

Ross - (risos) Para ser honesto com você, eu não saí do Manowar. Fui requisitado a deixá-lo.

Terra - Por quê?

Ross - Eu não sei. Desentendimentos com coisas comuns. O que eu lhe digo é que nunca deixaria a banda que criei.

Terra - E como se deu o convite para tocar com o Manowar em 2005?

Ross -
Eu não falava com nenhum deles há anos e Joey me ligou dizendo qual era a intenção do show. Sabe, nós tivemos nossas diferenças, mas, àquela altura, em 2005, as coisas já haviam se acalmado, e acabou sendo divertido.

Terra - Então você se juntaria ao Manowar se fosse chamado de volta?

Ross -
Sinceramente, isso nunca passou pela minha cabeça. Seria algo a ser pensado seriamente antes de eu chegar a uma decisão.

Terra - Há alguns anos surgiram rumores de seu retorno à banda, que passaria a contar com duas guitarras...

Ross -
Duas guitarras? Não. Eu acho que um Ross the Boss na banda é o suficiente, não concorda? O Joey decidiu que o melhor para o grupo seria que eu não fizesse parte dele, então não faço mais parte dele. Simples assim.

Terra - Scott Columbus, principal baterista da história do Manowar, estava tocando com você antes de morrer, em abril deste ano. No entanto, nada foi divulgado a respeito da causa do óbito - ele tinha apenas 54 anos. O que aconteceu com Scott?

Ross -
Bem, Scott tinha muitos problemas. Quando ele deixou o Manowar, se envolveu de forma pesada com substâncias e bebida, as coisas típicas que se ouve quando o assunto engloba músicos. Eu fui atrás dele, fui o cara que quis levá-lo de volta à estrada, colocando-o para tocar de novo em um verdadeiro set de bateria, para que as pessoas pudessem ver o quão bom ele era. Quem sabe, essa volta ao mercado musical pudesse fazer estalar algo em sua cabeça, fazê-lo se animar um pouco. Então, o levamos para os shows e as pessoas adoraram vê-lo de volta. Infelizmente, quando ele voltava para casa, aqueles "demônios" continuavam o chamando, sabe? (pausa, claramente emocionado) O que posso dizer? É ainda muito difícil falar sobre isso...

Terra - Eu sinto muito...

Ross -
Não, está tudo bem. Escute, eu amo muito o Scott e sinto sua falta (pausa)...realmente sinto. Se eu pudesse tê-lo ajudado mais, o faria. Infelizmente, eu vivo na cidade de Nova York e Scott vivia do outro lado do Estado de Nova York. Uma distância de mais ou menos 700, 800 km. Se eu o tivesse na minha vizinhança, se ele estivesse aqui, em Nova York, eu poderia tomar mais conta dele ou vigiá-lo um pouco mais...

Terra - Do que ele morreu?

Ross -
(pensativo) Coloque desta forma: talvez você não queira saber.

Terra - Você não quer falar sobre isso?

Ross -
Não posso.

Terra - Eu ouvi que ele teria cometido suicídio...
Ross -
(pausa) Não vou discordar disso.

Terra - Tudo bem. De volta ao tópico heavy metal, por que o estilo é tão mais bem-sucedido na Europa do que em outros lugares?

Ross -
Com outros lugares você quer dizer EUA?

Terra - Também.

Ross -
Bem, me parece que o estilo é mais acessível por lá. Há mais veículos voltados para o heavy metal, a base de fãs parece não morrer, as crianças se mostram mais à vontade com esse tipo de música do que as dos EUA. Sabe, elas não curtem rap, hip-hop ou coisas assim, como ocorre aqui. Nos EUA, todos só ouvem hip-hop ou Lady Gaga e, para mim, isso é simplesmente loucura.

Terra - Você gosta de algum desses artistas mais populares?

Ross -
Eu escuto muito Foo Fighters. Eles são ótimos, uma excelente banda de rock´n´roll. Que fique claro, não tenho nada contra Lady Gaga, pelo contrário, acho ela muito talentosa. Mas essas batidas pop e coisas do gênero não fazem parte do meu gosto musical.
Terra - Você não acha que Lady Gaga possui discursos muitos semelhantes aos do Manowar, no sentido de sempre se colocar no topo de seu estilo?
Ross - Eu nunca ouvi nenhum discurso dela, mas, pessoalmente, odeio discursos. Odeio, odeio! Oh, meu Deus (risos)!

Terra - Mas o Manowar talvez seja mais conhecido por seus discursos do que por sua música. Isso não lhe incomodava quando estava na banda? Você não falava nada?

Ross -
Falava (risos), mas eles não respondiam nada. O que eu quero dizer é que eles não ouviam minhas sugestões. Sabe, nós começamos a banda juntos e, ao longo dos anos...o fato é: eu estava vivendo na cidade de Nova York, eles, no oeste do Estado de Nova York. Então, não estávamos juntos o tempo todo. Logo, Joey fazia o que queria e eu tentava fazer minhas coisas. Isso foi há muito tempo, lá nos anos 1980. As coisas eram muito diferentes e, por mais que eu falasse, ele fez o que queria, sabe? Fez sua aposta. Pessoalmente, eu prefiro tocar duas canções a ouvir qualquer discurso ou solo. Odeio solos, odeio discursos e não acho que os fãs comprem ingressos para isso. Tenho certeza de que, se você fizer essa pergunta para qualquer fã, ele dirá, "sem solos e sem discursos" (gargalhadas). E eu prefiro dar a eles o que realmente querem.

Terra - Você soa um tanto ressentido quando fala do Manowar. Sente-se chateado pelo fato de ter sido demitido da banda?

Ross -
Chateado? Não sei. Sabe, isso foi há tanto tempo na minha vida. Faz 23, 24 anos. Mas, no geral, houve muito divertimento, e eu prefiro lembrar apenas dessa parte. Lembro-me das coisas boas, pois se ficasse me concentrando nas ruins, nada teria feito sentido. Nós fizemos muitas coisas ótimas e é delas que me lembro.

Terra - Você está com quase 60 anos. O que o leva a seguir tocando heavy metal?

Ross -
Oh, por favor, você sabe minha idade? Meu Deus! Eu realmente farei 58 anos em janeiro e, escute-me, eu continuarei tocando, tocando e tocando. Amo fazer isso. Quando for o momento de parar, o farei.

Serviço - São Paulo
Data: 10 de dezembro, sábado Horário: 18h
Local: Manifesto Bar
Endereço: Rua Iguatemi, 36, Itaim Bibi - São Paulo/SP
Fone: (11) 3168-9595
Censura: 16 anos Convênio com Estacionamento (Rua Joaquim Floriano, 1137)
Acesso a deficientes / ar condicionado

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